Um dia tenso de trabalho, com fatos inesperados e situações familiares que te tiram do controle, um dia daqueles que você quer chegar em casa, não falar com ninguém, tomar um banho e deitar, sozinha com seus pensamentos. A vontade é de gritar: FODA-SE! Jogar objetos na parede! Fugir para as Bahamas! A mente acelerada, imaginando mil cenários. Você respira fundo.. e diz: isso também vai passar. Começo a fazer uma busca em minhas memórias de momentos em que tive que mostrar ser mais forte do que realmente era.. Quando me deparo com aquela menina de oito anos, abandonada pela mãe depois de uma separação, assustada, confusa, chorando escondido no banheiro, à noite em silêncio, para que não ouvissem, que chorava até pegar no sono. E que no outro dia acordava pronta para ir à escola, como se nada tivesse acontecido. Toda essa reflexão para quê? Para questionar a partir de que momento começamos a utilizar de máscaras para disfarçar nossos sentimentos. Porque temos que usar a máscara de: FORTE, SEGURO, DIVERTIDO E DECIDIDO... Enfim, porque calar um grito de dor.. de desespero? Porque tentar demonstrar que está tudo bem, quando na verdade não está? Porque não ligar.. quando se quer dizer tudo o que está “entalado na garganta”? Em um momento difícil, você só ouve.. você precisa ser forte! O que significa ser forte? Para muitos, é por uma pedra em cima daquela situação, para outros ser forte é não chorar! Presenciei um caso de uma amiga que perdeu uma irmã em um acidente de carro, e a família não toca no assunto, eles não conseguem sentar juntos e chorar.. Porém cada um sofre, chora sozinho. Ignorar uma dor é sofrer menos? Ser forte é isso? Acredito que ser verdadeiramente forte é se permitir sofrer.
Não se obrigue a ser o divertido, o brincalhão quando não se sentir a vontade para brincadeiras. Não caia na armadilha de buscar demonstrar que é forte! Chore sem ter que dar explicações! Saia correndo! Bata as portas! Quebre os objetos! Acredito que todas as coisas tem um motivo para acontecer, que por mais difícil que seja a situação que esteja enfrentando, se ela foi destinada a você é poque você tem capacidade para resolvê-la! Se estiver muito difícil, compartilhe com alguém! As vezes você só precisa compartilhar... Quantas pessoas ao seu redor os conhecem sem suas máscaras? Quantas pessoas, só de olhar para seus olhos sabe que chorou e o motivo de suas lágrimas? Permita-se isso!
[Encontrei um trecho da Martha Medeiros que traduz bem isso tudo].
O sofrimento, excentuando-se o que traz de dor, tem um certo glamour, é cinematográfico.
Cena 1: você atravessa a madrugada escutando músicas antigas, fumando dois maços e revendo fotos.
Cena 2: você se trancafia no banheiro, senta sobre a tampa do vaso sanitário e dissolve-se de tanto chorar.
Cena 3: você se revira na cama sem conseguir pregar o olho, pensando, lembrando, doendo.
Cena 4: você caminha por uma rua da cidade, sem rumo, parando para uma cerveja num boteco estranho, onde ninguém lhe conhece, que bom ser invisível.
Se é pra sofrer, que seja sozinho, onde seu rosto possa estampar desalento, inchaços, nariz vermelho, olhar perdido, boca crispada. Se é pra sofrer, que o corpo possa verter, vergar, amolecer. Se é pra sofrer, que possa ser descabelado, que possa ser de pés descalços, que possa ser em silêncio.
Que os demônios levem pro inferno aquele que bate à nossa porta bem no meio da nossa fossa, aquele que telefona bem no auge das nossas lágrimas, aquele que nos puxa para uma festa obrigatória. Malditos todos aqueles com quem não podemos compartilhar nossa dor, e nos obrigam a fingir que nada está se passando dentro da gente.
Disfarçar um sofrimento é trabalho de Hércules. Um prêmio para todos aqueles que conseguem fazer com que os outros não percebam sua falta de ânimo nos momentos em que ânimo é tudo o que esperam de nós: nas ceias de Natal, jantares em família, reuniões de trabalho. Você não quer estar ali, quer estar em Marte, quer estar em qualquer lugar onde não seja obrigado a sorrir.
Há sempre o momento de pedir ajuda, de se abrir, de tentar sair do buraco. Mas, antes, é imprescindível passar por uma certa reclusão. Fechar-se em si, reconhecer a dor e aprender com ela. Enfrentá-la sem atuações. Deixar ela escapar pelo nariz, pelos olhos, deixar ela vazar pelo corpo todo, sem pudores. Assim como protegemos nossa felicidade, temos também que proteger nossa infelicidade. Não há nada mais desgastante do que uma alegria forçada. Se você está infeliz, recolha-se, não suba ao palco. Disfarçar a dor é dor ainda maior.
(Martha Medeiros)
[Ouvi esta música umas 359 vezes - rsrs, parece boba, mas faz algum sentido para mim - Pink - Fuckin' Perfect -Tradução]
Tão Lindo... Tão Verdadeiro!
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