Por tudo que fomos. Por tudo o que
não conseguimos ser. Por tudo que se perdeu. Por termos nos perdido. Pelo que
queríamos que fosse e não foi. Pela renúncia. Por valores não dados. Por erros
cometidos. Acertos não comemorados. Palavras dissipadas. Versos brancos. Chorei
pela guerra cotidiana. Pelas tentativas de sobrevivência. Pelos apelos de paz
não atendidos. Pelo amor derramado. Pelo amor ofendido e aprisionado.
Pelo amor perdido. Pelo respeito
empoeirado em cima da estante. Pelo carinho esquecido junto das cartas
envelhecidas no guarda-roupa. Pelos sonhos desafinados, estremecidos e adiados.
Pela culpa. Toda a culpa. Minha. Sua. Nossa culpa. Por tudo que foi e voou. E
não volta mais, pois que hoje é já outro dia. Chorei. Apronto agora os meus pés
na estrada. Ponho-me a caminhar sob sol e vento. Vou ali ser feliz e já volto!
(Caio Fernando Abreu)
[Compartilhando.. Esse talvez seja bem conhecido, mas Caio Fernando nos descreve tão bem muitas vezes...]
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